MOSTRA KIESLOWSKI NA SALA WALTER DA SILVEIRA
A mostra Krzysztof Kieslowski refaz trajetória do grande cineasta polonês desde os seus primeiros filmes na sua terra natal até a consagração na França com a trilogia das cores, baseada nos ideais da revolução francesa.
A dupla vida de Véronique (La Double vie de Véronique, 1991) com Irène Jacob: Weronika vive na Polônia. Véronique na França. Não se conhecem, mas ambas sentem que não estão sozinhas no mundo. Weronika aceita um lugar numa escola de música, trabalha com afinco, mas morre na sua primeira atuação pública. Nesse preciso momento, a vida de Véronique parece levar uma volta e ela desiste de cantar. Cada um de nós tem, em algum lugar no mundo, o seu exato duplo, alguém que partilha os nossos pensamentos e os nossos sonhos.
Na primeira parte da Trilogia das cores - A liberdade é azul (Trois couleurs: bleu, 1993), ao acordar em um hospital, depois de um acidente, Julie (Juliette Binoche) descobre que o marido e filha morreram. Desesperada, procura se desfazer de tudo que a lembre do passado. Trilogia das cores - A igualdade é branca (Trois couleurs: blanc,1994), no segundo filme da trilogia, a difícil relação de um casal (ele é polonês, ela francesa) serve de argumento para o filme discutir o ideal de igualdade entre as pessoas. Enfim, em a Trilogia das cores - A fraternidade é vermelha (Trois couleurs: rouge, 1995) Valentine (Irène Jacob) atropela uma cadelinha quando voltava para casa. Seu encontro com o dono do animal, um juiz que vive isolado, provocará questionamentos em ambos.
Blanc, é um filme a parte na trilogia. Sua cor não tem um papel determinante, o branco é difícil a usar na realização, também porque o filme acontece basicamente na Polônia, terra natal de Kieslowski, e enfim porque Blanc é uma comédia, uma comédia triste. Esse filme é como uma respiração entre Bleu et Rouge, que são renascimentos, a de Julie e a do juiz. Blanc é uma comedia irônica que fala da dificuldade de amar e de se entender para seres que vem de culturas diferentes.
O tema principal de Rouge é a fraternidade, mais antes de chegar lá, precisamos afrontar a solidão e a ausência de comunicação. O telefone esta onipresente, como único laço entre Valentine e seu namorado, ou para o juiz que espia as comunicações telefônicas dos vizinhos. A comunicação ou a ausência de comunicação, como se falar sem se ver, como aguentar o vazio da sua existência graça a comunicação dos outros. Esse juiz se sente sozinho. Quais são os meios que ele acha para encher sue vazio existencial senão escutar que se passa na vida dos outros, buscar a verdade, o sentido da vida nas conversas que não lhe dizem respeito.
Rouge é antes de tudo a cor que da o tom do filme, como para Bleu, ela é um elemento dramatúrgico presente desde o começo até o fim. O som é também muito importante no filme, as vozes das personagens, especificamente a singular de Jean-Louis Trintignant, quando ele conversa com Valentine, a vozes das conversas telefônicas e a música, onipresente no Bleu.
Os três filmes começam da mesma forma, com um som que antecede o que ele representa, uma referencia a tecnologia que se usa de forma quotidiana. No Bleu, o barulho do carro circulando, o foco no pneu e o foco embaixo do carro. No Blanc, um som misterioso é identificado com o barulho de uma mala em cima de uma tapete mecânico num aeroporto, antes do barulho de uma chamada telefônica que nos seguimos através da linha no Rouge.
Os sons também acabam da mesma forma, nas lágrimas que representam o fim da batalha das personagens : Julie chora e se libera de seu luto (Bleu), Karol chora, agora no nível de igualdade com sua esposa, o juiz chora porque não esta mais solitário. A água também é um elemento presente nos três filmes : a água que pacifica na piscina (Bleu), a água pura da neve (Blanc), a água da chuva no Rouge.
A trilogia foi um trabalho titanesco. Os três filmes foram filmados um após o outro, quando filmava Blanc, Krzysztof Kieslowski montava Bleu à noite, e assim chegou Rouge. Vivia com os filmes. Kieslowski era um cineasta único com uma visão singular. Ele não se inspirava em outros filmes para nutrir os seus, mas na vida e nas pessoas. Em cada obra, ele mostrava sua visão do mundo. Queria que os filmes ligassem as pessoas entre elas. Cada plano era premeditado. Cada elemento tinha sua função. E se o personagem de Jean-Louis Trintignant olha a câmera no fim de Rouge, é para nos dizer que nunca é tarde para reencontrar a esperança, que tem que ter fé na vida e saber entender os sinais que ela manda, porque tudo está escrito. Como estava escrito que esse grande diretor partiria numa manhã cinza de 1996. Cedo demais. (Carine Filloux, Film de culte)
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